SOBRE OS EXTREMOS
Demétrio Sena - Magé
Muitas vezes, dizem que alguém se converte ao evangelho, quando está no fundo do poço. Entretanto, sendo o fundo do poço a coroação de uma trajetória desgraçada, que deságua em um profundo arrependimento, converter-se a uma religião já é o próprio fundo. Mais triste ainda, é a pessoa se unir obrigatoriamente a outra do mesmo contexto de vida, para criar uma prole "perfeitamente uniforme" e depois se vangloriar, dando tapas no próprio peito: "EU criei todos eles dentro da igreja!".
Em outras palavras, a pessoa conheceu o mundo, viveu, fez as suas escolhas, mas os filhos, talvez os netos, nunca viram a superfície. Foram criados no fundo do poço e, se um dia resolverem buscar a luz da liberdade, serão para sempre ofuscados por um remorso; um profundo sentimento de culpa: o de quebrarem a tradição familiar de pertencer ao fundo do poço, onde o radicalismo do inverso faz idealizar o céu, simulando-o no inferno da própria realidade. Uma realidade fantasiosa, repleta em superstições, medos ou coragens doentias em uma guerra espiritual imaginária contra demônios e pessoas que se tornam demônios, porque são da superfície.
Há gerações e gerações criadas nesse fundo, imaginando que salvaguardam suas almas e desfrutam do reconhecimento divino que há de coroá-los depois da morte. Como adiantamento, a ilusão de serem guerreiros e guerreiras do "Supremo". Superiores aos seres da superfície - os mundanos. Uma "santidade" que os torna - sem abandonarem as expressões contritas - dispostos a puxar compulsoriamente os "mundanos" para o fundo do poço ou cancelá-los sumariamente.
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Respeite autorias. É lei
