CORAÇÃO INCORRIGÍVEL
Demétrio Sena - Magé
Sou desses caras ingênuos, ou bobos, que sempre acham que fizeram afetos em determinados lugares. E quando resolvem, chegam cheios de acenos, aos locais, para matar saudades. Com o riso exposto, chamamando as pessoas, em alto som. Só aí percebem, em polegares distantes, sorrisos pálidos e cumprimentos desconcertados, que o afeto é unilateral; não existe a reciprocidade que só os corações bobos acreditam haver, nestes tempos de muita pressa. De muito separatismo, pelas mais diversas questões, das mais profundas às mais fúteis e rasas.
Até entre pessoas com laços consanguíneos está assim. Com pouco tempo de ausência, eventuais retornos têm surpresas como essas: cumprimentos frios, olhares incomodados, ameaças veladas de assuntos que podem criar atritos e a velha imposição do gênero "minha casa, minhas crenças; preferências; hábitos; orientações; visões de mundo, vida, política e sociedade", sem direito a contraditórios. Quase ninguém se alegra por ver o outro; quase ninguém recebe com alegria nem se comporta ou se expressa de forma docemente brega, para mostrar o quanto o outro é bem-vindo... seja ele como for, como ele aja, não importa no que acredite.
É assim nos ambientes físicos, nos grupos de redes sociais e até nas conversas remotas, mesmo entre duas pessoas, por alguma razão que, se não houver, será inventada. "Mudar o rumo da prosa", porque já está "batida" ou desgastada, não vai adiantar. A outra "prosa" será também constrangedora, porque a fogueira dos egos é obrigatória nestes tempos. Mas ainda sou desses caras bobos; que têm uma carga de conceitos nada ou não muito convencionais, e mesmo assim acredita na congregação dos opostos; na união da diversidade; na igualdade sob as diferenças.
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Respeite autorias. É lei
