Mestre cervejeiro João Veiga | Foto: Eduardo Ribeiro
Shirley Costa
Reza a lenda que viveu há muitos anos, às margens de um rio em Guapimirim, um português nobre, proprietário de parte das terras da região e grande provador de vinhos. Ele ficou conhecido pelos moradores como o “Bom da Caneca Fina”, originando assim o nome da localidade. Hoje, no bairro Caneca Fina, não se pode encontrar provas que validem a história, mas a vocação do lugar para a degustação de bebidas é mantida pelo mestre cervejeiro João Veiga. Além de produzir cervejas artesanais, da marca CerVeiga, apreciadas por amigos, familiares e vizinhos, ele compartilha seus conhecimentos por meio de cursos realizados periodicamente em sua residência. Os sabores e aromas da bebida, além da exuberante natureza do local, atraem pessoas de diversos lugares do estado do Rio de Janeiro.
A demanda para os cursos é tão grande, que alguns interessados não conseguem fazer a inscrição e precisam aguardar a abertura de novas vagas. “Disponibilizei 15 vagas para a última turma, mas devido à procura, tive que abrir mais quatro”, disse João, acrescentando que turmas muito cheias dificultam o aprendizado. O cervejeiro explica ainda que muitas pessoas chegam ao curso por meio da propaganda boca a boca de amigos e familiares.
Foi o que aconteceu com os irmãos Liara e Francisco, moradores de Petrópolis, que foram ao último curso, realizado em 10 de março, acompanhados pelos pais, Luis Carlos Fonseca e Eliane Fonseca. Luis e Eliane, que já haviam feito o curso, aproveitaram para revisar seus conhecimentos. Os dois pensam em abrir um negócio familiar. “Com este aprendizado, vamos poder abrir nosso próprio negócio em casa”, disse Eliane, com entusiasmo.
Esse também é o objetivo do despachante aduaneiro Rogério Loja. “Meu filho tem um restaurante japonês e não pôde vir. A ideia é aprender a fabricar cerveja para que ele possa vender no estabelecimento”, contou Rogério.
Mas abrir ou incrementar o próprio negócio nem sempre é o objetivo de quem se inscreve no curso. Muitos querem fabricar cerveja por hobby, como é o caso do psiquiatra Sawllus Coelho. “Gosto da alquimia da cerveja artesanal e tenho o sonho de praticar esse hobby quando eu me aposentar”, afirmou ele.
O químico de petróleo Daniel Chalita também vê na fabricação da bebida uma forma de terapia. “Não tem coisa melhor do que fabricar e apreciar sua própria cerveja”, disse Daniel, que fez o curso por curiosidade e hoje auxilia João durante as aulas.
O cervejeiro João Veiga concorda com os alunos. “Quem entra para o ramo da cerveja artesanal não tem depressão”, disse ele, ressaltando outros benefícios da bebida para a saúde, como a hidratação e a boa forma física. “Minha mãe tem 92 anos e não bebe água, só cerveja. Ela não toma um remédio! Eu também só bebo cerveja, não consigo beber água, e sou magro”, garantiu ele.
No entanto, engana-se quem pensa que qualquer cerveja pode trazer benefícios para a saúde. O malte, presente em grande quantidade na cerveja artesanal, nem sempre compõe, na medida necessária, a fórmula das grandes marcas comerciais. “No Brasil, infelizmente, a lei diz que a cerveja tem que ter até 50% de malte (o resto é arroz). Na Alemanha, é 100%”, explica Veiga.
Outra vantagem das cervejas artesanais é que elas não levam conservantes e aditivos, e os sabores variam conforme a criatividade. Gengibre, passas, cascas de laranja, café, pimenta, chocolate e até pétalas de rosas são apenas alguns dos ingredientes já testados pelos cervejeiros.
Muitos desses ingredientes são usados por João em suas bebidas, fabricadas desde 2005. Até agora somam 150 cervejas. Duas delas foram premiadas em concursos nacionais, promovidos pelas Associações dos Cervejeiros Artesanais (Acervas): a Negafumê (de estilo porter defumada) e a Festival, nos anos de 2007 e 2010, respectivamente.
João, que também é engenheiro civil e corretor de imóveis, fabrica as cervejas CerVeiga em sua casa, no condomínio Parque da Serra da Caneca Fina, no bairro Caneca Fina, em Guapimirim, mesmo local onde ministra os cursos.
Segundo ele, os interessados em aprender a fabricar cervejas artesanais precisam ter muita paciência e dedicação, já que é um processo demorado e qualquer erro pode levar à perda da bebida. No entanto, ele garante que o aprendizado é fácil, bastando um pouco de esforço.
O investimento para quem quer montar sua própria fabricação caseira varia de R$ 1000 a R$ 2000 com equipamentos e utensílios, vendidos em lojas especializadas.
Serviço:
O curso prático de cerveja artesanal promovido por João Veiga ocorre, geralmente, de dois em dois meses, com duração de um dia. O investimento é de R$ 350, incluindo apostila, consultoria pós-curso, almoço com churrasco, degustação de diversas cervejas artesanais, da marca CerVeiga, e certificado de participação. Outras informações, como data do próximo curso, podem ser obtidas no site http://jveigaimoveis.com, pelo e-mail joaomveiga@uol.com.br ou pelos telefones (21) 2632-4764 e 9986-1561.