"Nossos ídolos ainda são os mesmos"
Demétrio Sena - Magé
A música mais emblemática do eterno Belchior - Como os Nossos Pais -, que foi sucesso na sua voz, nos anos sessenta, e mais ainda na voz da Elis Regina, tem em seu protesto a frase "Nossos ídolos ainda são os mesmos". Logo depois, emenda com "Você diz que depois deles não apareceu mais ninguém!". Se ainda fôssem vivos, Elis e Belchior ficariam exultantes com o quanto a música permanece atual nos nossos dias, e o quanto foi profética em sua composição.
Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque de Holanda, os nossos mais atuantes cantores e compositores críticos da ditadura militar naqueles anos, e ainda hoje atuantes, convocaram para domingo passado, 14 de dezembro, um ato musical nos moldes dos anos de chumbo. Desta vez, o alvo do protesto (em todo o país) não foi o governo federal, que hoje é democrático, de esquerda e centrado nas mesmas questões humanitárias, de cidadania, igualdade racial, de gênero e liberdade de expressão. Foi um ato contra o Congresso Nacional, que vem cometendo as mais absurdas arbitrariedades, os piores atos corporativos e de corrupção. Muitos outros cantores e cantoras da MPB, da mesma época, um pouco mais novos e alguns da nova geração atenderam ao chamado, em todo o país, e fizeram desse movimento nacional um grande sucesso de participação popular.
Hoje com 64 anos de idade, já tendo participado presencialmente de muitos atos culturais, sociais e políticos, não pensei que ainda presenciaria um momento de tamanha beleza, relevância e significado, tendo como protagonistas absolutos os mesmos ídolos de minha infância e juventude. Ao longo do tempo, surgiram muitos artistas relevantes, engajados em boas causas, mas, pouquíssimos com o arrojo dos meus; dos "nossos ídolos" que "ainda são os mesmos", de forma fantástica; bonita; emocionante. A profecia da música, na qual canta "Você diz que depois deles não apareceu mais ninguém" é cumprida, com exceções até generosas, entre os novos artistas da nossa música, nossa dramaturgia, literatura e outras artes. A ausência maciça previsível foi dos cantores sertanejos e gospel.
Uma tarde de boa música, protestos inteligentes e arrojados, porém, pacíficos (porque a esquerda é assim), e muitos gritos de ordem contra um congresso de maioria corrupta, que só cria e defere leis em benefício próprio e contra o povo. Foram muitos os gritos de #congressoinimigodo povo; #anistianão, #forahugomotta, muitos bem divertidos, como #chupetinhainimigodopovo, #forabananinha e tantos outros que surgiram no calor do evento.
A maior motivação do ato musical foram as muitas tentativas do congresso, de anistiar os vândalos do fatídicob 8 de janeiro, com a intenção de beneficiar o ex-presidente Bolsonaro, que ora está preso por tentativa de golpe abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
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