Projeto da Guardiões do Mar restaura 10 hectares de manguezais degradados da Baía de Guanabara
Os manguezais da Baía de Guanabara perderam profundamente sua cobertura vegetacional original, reduzida de 258 km² para cerca de 80 km². Com o objetivo de restabelecer parte da vegetação típica da região, uma comunidade tradicional de pescadores e catadores de caranguejos, representada pela Cooperativa Manguezal Fluminense, se uniu ao corpo técnico do Sou do Mangue — projeto da ONG Guardiões do Mar, com parceria e execução da Nova Transportadora do Sudeste (NTS). A iniciativa bem-sucedida foi relatada recentemente em artigo científico publicado na Revista Brasileira de Meio Ambiente e Sustentabilidade.
Esse projeto de restauração está sendo desenvolvido na Área de Proteção Ambiental de Guapi-Mirim, Unidade de Conservação gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que abrange os municípios de São Gonçalo, Itaboraí, Guapimirim e Magé. Apesar de ser o último reduto do ecossistema remanescente, abrigando a maior área contínua de manguezal preservada do estado do Rio de Janeiro, a APA possui trechos onde ocorreram intensos desmatamentos, em especial, até a década de 80.
Com duração total prevista de 48 meses, a ação foi iniciada em novembro de 2020, com a atuação de uma equipe operacional composta por 15 integrantes da Cooperativa Manguezal Fluminense. Entre as atividades que foram realizadas estão: melhoria do fluxo hidrológico com correção de canais, roçada de espécies invasoras, transplante e plantio de mudas pertencentes às três espécies arbóreas nativas da região. Atualmente, a área encontra-se na fase de manutenção e monitoramento. Ao todo, foram plantadas 25.000 mudas.
Grande parte do sucesso do projeto se deve à união da tecnologia social — conjuntos de técnicas e saberes locais — com o conhecimento técnico e científico. Por meio desse intercâmbio entre a ciência e as comunidades tradicionais, são resgatadas ou desenvolvidas, por exemplo, técnicas de manejo sustentável, como o Transplantio, que é o método utilizado para restaurar o ecossistema.
“Quando produzíamos mudas no viveiro, muitas eram perdidas. Então, por meio da expertise do pescador, nós começamos a transplantá-las. Passamos a tirá-las de baixo da planta mãe e as levá-las ao sol. Desta forma, ficamos dentro da margem de perdas, chegando a, no máximo, seis por cento”, conta o presidente da Cooperativa Manguezal Fluminense, Alaildo Malafaia.
"Tendo em vista os severos impactos ambientais causados aos manguezais nas últimas décadas, torna-se necessário adotar medidas de restauração florestal, desenvolvendo tecnologias sociais para o restabelecimento das suas funções ambientais. No Brasil, projetos de restauração florestal de manguezais ainda são pouco difundidos, além de possuírem escassa literatura técnico-científica", explica o coordenador do Projeto Sou do Mangue, Guilherme de Assis.
Além de ajudar a recuperar parte da floresta de mangues da Baía de Guanabara, a iniciativa atende a diversos critérios estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) em sua nova agenda para o Desenvolvimento Sustentável, composta por 17 objetivos (ODS), entre eles a ´Erradicação da pobreza´.
“O sucesso da restauração florestal tende a ser resultado do monitoramento e da avaliação efetiva durante toda a sua execução, que é potencializado quando comunidades tradicionais, que possuem íntima relação com o ecossistema, atuam no projeto. Além disso, projetos de restauração florestal onde há o envolvimento de comunidades tradicionais que vivem dos manguezais podem ser uma estratégia para aumentar a renda de um grupo que se encontra, na maioria das vezes, em vulnerabilidade social”, acrescenta Guilherme.
“Já entendemos que os problemas advindos da degradação de ecossistemas, tem potencializado o racismo ambiental e a exclusão. Ninguém melhor do que aqueles que se encontram em zonas de exclusão e sem acesso a direitos mínimos, como o saneamento básico e água de qualidade, para entender a emergência de conservarmos nosso bens naturais”, finaliza o presidente da ONG Guardiões do Mar, Pedro Belga.
O artigo científico completo com o relato de todo o projeto de restauração pode ser acessado no link: https://rbmaes.emnuvens.com.br/revista/article/view/302
Parceria do bem
O Projeto Sou do Mangue, uma execução da NTS – Nova Transportadora do Sudeste, com realização da ONG Guardiões do Mar, teve início em outubro de 2020, quando começou o trabalho de Restauração Florestal de 10 hectares de manguezais degradados, localizados na APA de Guapi-Mirim. O projeto tem duração de 48 meses e segue os mais rigorosos indicadores de qualidade ambiental, como a Resolução INEA n° 143 de 2017, além de promover ações de Saúde, Segurança e Meio Ambiente – SSMA.
Nessa nova etapa da parceria, com duração de 12 meses, a educação ambiental será utilizada como ferramenta para um trabalho de relacionamento comunitário com moradores de comunidades, direta ou indiretamente impactadas, do entorno do Gasoduto Itaboraí-Guapimirim (Gasig). O objetivo é sensibilizá-los e mobilizá-los para a disseminação de informações e boas práticas ambientais.
Serão atendidas, por meio ações continuadas, 400 pessoas (30 alunos e ao menos dois professores em cada escola), além da formação de redes de adolescentes protagonistas para o desenvolvimento de educação e cidadania na escola e comunidade onde vivem. Nas atividades pontuais, com ações de educação ambiental itinerantes — eventos em praças públicas, campos e demais espaços não formais —, espera-se um mínimo de 1.000 pessoas. Todas as ações e oportunidades podem ser acompanhadas nas redes sociais da ONG: facebook.com/ongguardioesdomar e instagram.com/guardioesdomar