Colunistas | Medianas e mediúnicas | 27 de janeiro de 2011 - 20:49

Minha noite inesquecível

Luciano S.
Estive noite dessas no Bourbon place, famoso bar proletário da alta sociedade londrina. Lugar suntuoso, com seus tapetes de vime mais fundos que as piscinas olímpicas usadas nas olimpíadas. Lembrou-me um desenho do pica-pau onde o referido personagem mergulha no tapete, e nada como se o tapete fosse uma piscina olímpica usada nas olimpíadas. Ainda me ambientava ao ambiente quando Sir Jack Donaghy, antigo magnata da mendicância elitizada se aproximou de mim e muito polidamente me esmurou o nariz.
Após as calorosas e carinhosas boas vindas, explorei o lugar e me pus a observar os tipos e suas particularidades. Em menos de oito horas eu já me sentia à vontade. Sentia-me como todas aquelas pessoas que lá estavam por terem sido convidadas. Sim, não me haviam enviado nenhum convite ou ao menos haviam me avisado que a festa aconteceria, mas como eu não tinha estocado nenhuma lata de vergonha em conserva na minha despensa particular, resolvi ir mesmo assim. Ao me aproximar de uma área restrita cercada por dois ou três negões albinos de cassetete em punho, qual não foi minha surpresa ao encontrar Sir Michael Scofield, sorridente tal qual uma taquara, que me saudou um com uma efusiva cusparada antes de muito justamente me esmurrar o nariz.
Animei-me a procurar novos ares e conhecer novos rostos dentre aquelas dezenas de joviais rostos enrugados, e numa conversa deveras animada com um membro da Sociedade Exterminadora de Pessoas Estranhas, descobri o meu lugar. Percebi que mesmo aquelas pessoas estranhas poderiam me trazer algum tipo de conforto naquela noite. Recebi alguns convites para conhecer lugares deveras interessantes como o lado interno de uma guilhotina, o interior de uma câmara de gás ou ainda o lado da frente do cano de um AR-15. Quando me preparava para retribuir a gentileza, Sir Caleb Nichols, ilustre personagem de seriados americanos, com sua imensa simpatia, nada disse e nada perguntou. Apenas se aproximou apressadamente e me esmurrou o nariz. Uma simpatia!
Toda aquela receptividade começou a me deixar meio tonto. E a tontura junto ao melado que inexplicavelmente escorria de minhas fossas nasais me deixaram com sono. Resolvi ir para casa e recolher-me a minha cama a fim de dormir um sono sonífero. Afinal, estava eu a quase dezessete horas em pé, visto que não havia nenhuma cadeira sobrando no vasto salão da sala de conferência dos fabricantes de cadeiras. Pedi meu casaco ao guardador de casacos e enquanto ele murmurava algo como “Vai te lascar, carcamano”, me dirigi às pessoas da sala de jantar - que eram apenas as pessoas na sala de jantar - a fim de me despedir. Antes de dizer qualquer coisa, fui interpelado pela Sra. Kate Austen me perguntando: “O que é isso em sua blusa?”, e enquanto me virava para observar, a referida pessoa me esmurrou o nariz.
Cheguei em casa, fatigado, exausto e exaurido, e o que é pior, cansado pra dedéu. Pus gelo gelado no nariz para aliviar uma estranha dor que me atormentava desde que deixei o referido clube, mas curiosamente perdi totalmente o sono. Terminei a noite assistindo uma partida de boxe pela TV. Só consegui dormir quando o boxeador português errou o cruzado de direita em seu oponente e acabou me esmurrando o nariz.