Olho vivo, faro fino | 25 de julho de 2018 - 03:17

Os letristas do "Hino Nacional Brasileiro"

Existem os letristas que, apesar de poetas consagrados, pouco se sabe sobre seus livros de poesias, porém, suas letras, ainda que esporádicas, são muito conhecidas, como por exemplo, a letra do "Hino Nacional Brasileiro".


A melodia foi composta no ano de 1822 por Francisco Manuel da Silva (1795/1865) e letrada, posteriormente, em 1906, pelo professor de português do Colégio Pedro II Joaquim Osório Duque-Estrada (1870/1927 - poeta ligado ao Romantismo, porém, com influxos parnasianos), mas que escreveu seu nome na história, não por seus 14 livros lançados, mas por ter letrado o hino. Na verdade, ter feito a segunda letra para esta melodia, porque anos antes, em 1831 o poeta romântico Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva (da primeira geração de letristas brasileiros) já o havia feito, no tempo em que a composição ficou popular por ser em desacato ao ex-imperador, que embarcava para Portugal e era intitulada ainda por “Marcha Triunfal”. Eis a primeira letra:



Os bronzes da tirania
já no Brasil não rouquejam;
os monstros que o escravizavam
já entre nós não vicejam.


(estribilho)
Da Pátria o grito
eis que se desata
desde o Amazonas
até o Prata.


Ferrões e grilhões e forcas
d´antemão se preparavam;
mil planos de proscrição
as mãos dos monstros gizavam.


E continha ainda uma segunda parte, de autoria desconhecida:


Negar de Pedro as virtudes
seu talento escurecer
é negar como é sublime
da bela aurora, o romper.


Da Pátria o grito
eis que se desata
desde o Amazonas
até o Prata.


Convém lembrar, que esta, segundo o professor Deonísio da Silva, não é a primeira melodia e letra do referido hino. Na verdade, segundo o professor de português, escritor e vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, a composição que venceu o concurso público foi a melodia do uruguaio Leopoldo Miguez letrada pelo poeta Medeiros e Albuquerque, aprovada entre os 36 candidatos. A letra classificada em primeiro lugar é falsa no que diz respeitos aos fatos:


“Nós nem cremos que escravos outrora
tenha havido em tão nobre país...”


“Do Ipiranga é preciso que o brado
seja um grito soberbo de fé!”


O outrora a que se refere a letra é o ano de 1888, portanto, pouco mais de um ano antes dela. Já o riacho Ipiranga ganhou status de Rio Amazonas na letra.


A comissão julgadora havia reprovado também uma letra anterior a esta, feita por Américo Moura:


“Gravai com buril nos pátrios anais o vosso poder.
Eia! Avante, brasileiros! Sempre avante.”


Outro grande problema era a nacionalidade do Leopoldo Miguez, por ser uruguaio, este detalhe incomodava demais o Marechal Deodoro da Fonseca:


“Monarquista que proclamara a República, que determinou que o Hino Nacional continuasse a ser aquele dos tempos do Império.” (Deonísio da Silva)


Como se não bastasse essa total insensatez em relação às três letras feitas para as duas melodias do hino, há ainda, um problema maior com relação à segunda melodia. Segundo o professor Sérgio Fonseca, o músico Francisco Manuel da Silva era copista (reprodutor de partituras) e, consciente ou não, usou uma melodia popular da Idade Média, executada pelas pequenas fanfarras da época. Quer dizer, o copista Francisco Manuel da Silva “copiou” toda ela.


Américo de Moura, Medeiros e Albuquerque e Joaquim Osório Duque Estrada são os letristas das duas melodias do Hino Nacional e pouco se sabe sobre seus livros, contudo, entraram para a história como letristas.



  • Seus dados

  • Nome completo *
    Digite seu nome completo
  • E-mail *
    Digite seu nome completo

  • Dados dos seus amigos

  • Limite de 10 e-mails por envio.
  • Nomes *
    Caso queira enviar para vários amigos, basta separar os nomes com vírgulas.
    Exemplo: George Gonçalo, Ana Leticia, Mauro Gomes
  • E-mails *
    Digite os e-mails dos seus amigos. Siga a mesma ordem dos nomes.
    Exemplo: george@email.com, ana@email.com, mauro@email.com
  • Mensagem *
    Essa mensagem será enviada para seus amigos, junto com a indicação

Sobre o autor

Publicou 12 livros, entre os quais “Sapo C/ Arroz” (poesias/1979); “Emboscadas & Labirintos” (Contos/1995); “Alguns Aspectos da MPB” (Ensaios/2008); “O Guitarrista Victor Biglione & A MPB” (Perfil/2009) e “A Letra & A Poesia na MPB: Semelhanças & Diferenças” (Ensaio/2019). Pesquisador musical trabalhou para PUC-Rio, UNI-Rio, UERJ, UFRJ, Biblioteca Nacional, Instituto Antônio Houaiss, CNPq, FINEP, EMI-ODEON e Dicionário Cravo Albin da MPB. Foi curador de projetos musicais, tais como “Quintas no BNDES” e “Novo Canto”. A partir de 1978 atuou como produtor de discos. Participou de seis CDS e um DVD de parceiros. Em 2012 lançou o CD “Quintal Brasil: Poemas, Letras & Convidados” com 17 faixas interpretadas por parceiros e cantoras (es), declamando oito poemas. Em 2022 lançou o CD “Perfil: Poemas, Letras & Convidados”, no qual foram gravadas, por parceiros e intérpretes, 17 faixas e declamou dois poemas. Letrista com cerca de 90 composições registradas por Anna Pessoa, Luiz Melodia, Mário Bróder e Pecê Ribeiro, entre outros. Dos seus quase 50 parceiros constam Amarildo Silva, Cacaso, Carlos Dafé, Claudio Latini, César Nascimento, Eliane Faria, Elza Maria, Ivan Wrigg, Joel Nascimento, Marko Andrade, Reizilan Cartola Neto, Renato Piau, Reppolho, Rildo Hora, Rubens Cardoso, Victor Biglione e Xico Chaves. Saiba mais em dicionariompb.com.br e wikipedia.org/wiki/Euclides_Amaral.

O LIVRO ALGUNS ASPECTOS DA MPB pode ser baixado de graça clicando aqui.

O LIVRO "O Guitarrista Victor Biglione" também pode ser baixado de graça clicando aqui.

O verbete do guitarrista Victor Biglione pode ser baixado clicando aqui.

Nenhum comentário

Seja o primeiro