A Arte da Desmistura | 19 de abril de 2017 - 08:49

Brasileiro, profissão desespero

BRASILEIRO, PROFISSÃO DESESPERO


     Há momentos em que tudo aquilo em que acreditamos parece difícil de ser alcançado. Mas já passou o tempo do pensamento mágico, onde, num simples passe de mágica, tínhamos o mundo aos nossos pés. Não se trata de um simples abracadabra.


     O apogeu da cultura grega nos deixou um legado que inviabiliza a possibilidade de um atraso ético e moral como o atual em que estamos afundados.


     A tacanhez do modelo colonial que orientou nossa deturpada formação social descambou para lideranças míopes e despreparadas. Toda falta de preparo alimenta economias ultrapassadas. Pouco se evoluirá, sem o mínimo interesse em investimentos na educação e em infraestrutura. Propostas autoritárias e continuístas provocam o surgimento de ditaduras que acabam em venalidade, falta de ética, atraso cultural e estagnação, resultando no estágio de pântano e atraso a que chegamos.


     Já foi por terra a crença na teoria da hegemonia cultural de Gramsci que propõe que se promova o caos e a terra arrasada para, no meio da insatisfação popular, se impor uma mudança social radical.


     Qualquer proposta de revolução armada, sob qualquer ideologia, abrirá um enorme vácuo no tempo, uma nova e absoluta falta de diálogo, sem retorno.


     Voltando na história, o muro de Berlin caiu há décadas, mais precisamente, em 1989.


     Não devemos nos esquecer de que, no meio do formigueiro, como forma de pressão, é sempre plantado o espantalho do medo. Mas o problema maior, já enraizado, na verdade, é o somatório de preguiça com corrupção e acomodação, alimentando o vazio cultural e o vício das promessas sem compromisso.


     Este é o quadro do país que não desejamos: a ameaça de um caminhão de areia sobre a nossa cabeça, pronto para nos soterrar. Diante de qualquer tentativa de fazer alguma coisa que não seja do interesse dos que se encastelaram no poder ele se moverá.


     O atraso educacional e o espectro de pobreza tomam conta do mundo, estendem-se para além do Mediterrâneo, sob a forma de conflitos religiosos, com reflexos na emigração.


     Senhores... Por que voltar ao passado? Vamos enlouquecer os deuses do Olimpo!


     Quem vive de estória é livro infantil, mesmo assim as que mobilizam a lucidez e a criatividade das crianças.


     Como a maioria dos países emergentes, estamos atrelados a interesses externos. Todo domínio tutelado sempre se sustenta com procedimentos onde o povo serve de massa de manobra, relegado a uma condição de refém da sua própria ignorância.


     Vestidos em nossa inocência primária, digna de Macunaíma, temos uma preguicinha incurável dentro da gente. De um jeito só nosso e indolente.


     Não tem direito de cobrar organização quem vive com a casa desarrumada. Não se pode cobrar polidez de quem não tem educação; vontade de mudar, de quem não quer mudar de verdade. Ou não sabe como ou para quê.


     Poupem-me de calar para não ser invasivo. De buscar neutralidade quando estamos sendo desrespeitados e lesados, desavergonhadamente.


    Se aceitarmos silenciosamente a insensatez, acabaremos discutindo o sexo dos anjos.


      Já dizia Itararé, nosso velho barão:


     - “Não é triste mudar de ideia, triste é não ter ideias para mudar”.


     O exemplo deve vir de casa.


     Quando vamos deixar de fechar o cruzamento das ruas?


     Quando vamos lutar para impedir que os alunos enfiem o dedo na cara dos professores – apoiados pelos pais -, sem que eles possam defender-se?


     Quando vamos exigir que o que é importante seja feito e as falcatruas sejam banidas do nosso cotidiano?


      Não gostaria de me tornar um chato discutindo coisas tão primárias, mas o silêncio pode se transformar numa forma covarde de conivência.



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Sobre o autor

Ivan Wrigg Moraes é poeta, psicólogo, compositor, analista de sistemas, professor e articulista. Publicou cinco livros de poesia e uma antologia poética, dois de literatura infantil, uma prosa filosófica e quatro livros sobre história do teatro, além de ter gravado dois CDs solo (Lenha na Fogueira e Se Rolar, Rolou). Recebeu prêmio da UBE para o livro 3 x 4, de poesias.

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