Apresentação do Poema Pedra
Às vezes o escrever parece um defeito. Sexta-feira, noite, todo mundo rindo e conversando. O sujeito escolhe uma mesa no canto e passa horas a rabiscar papel. Muda a cena. Madrugada. Quase todos dormem. E o cara, à frente do computador, caça palavras. Sorri sozinho, feliz com seus achados. Foi pego na armadilha da poesia. Preso ao ritmo dos versos, cria livre novos universos. Por isso, comparo o poema e a pedra. Esta, tanto vira artesanato quanto obra de arte. Tanto serve de muro quanto de ponte. Tanto embasa o pé que pisa quanto arma a mão que a arremessa. Uma vez em voo, pássaro concreto, nem o próprio atirador atina o seu destino. Pode estilhaçar vidraças, pode afugentar fuzis, pode até abrir cabeças, embora isso seja mais difícil. Também é comum que sejam largadas, ovos anfíbios, à beira do rio – de janeiro ou não. Quem sabe não venha daí uma praga de sapos poéticos e invada a seara dos poetas príncipes, dos poetas pantomima, dos poetas apresentadores de programa de TV?
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