Recôncavo da Guanabara | 01 de fevereiro de 2013 - 16:53

A cultura da Baixada Fluminense e seus significados

Quais são os significados que formam a teia cultural da Baixada Fluminense? Por um lado, há uma população marcada pela avidez de si mesma, tão facilmente identificada nas múltiplas ações políticas fomentadas alternativamente pelos seus agentes culturais. Por outro lado, as políticas culturais sistemáticas reproduzem a idealização platônica e a negação do devir. Ao longo das últimas duas décadas eu tenho testemunhado diferentes iniciativas culturais em diferentes lugares da Baixada Fluminense. De alguma forma, eu me pergunto se o devir contraditoriamente tem sido alimentado pelo ideal platônico de que um dia a cultura alcançará um lugar de destaque nas políticas públicas das cidades da Baixada Fluminense. A cada quatro anos, por ocasião das eleições municipais, o ideal platônico é alimentado pela esperança de um futuro que se aproxima, onde a cultura será uma pasta de destaque na elaboração dos governos que fazem de seus discursos um ideal de mudança.

A Cultura também pode ser percebida no âmbito de um campo de tensões. A Cultura pode ser encarada como um instrumento da consciência entre o indivíduo e o coletivo. O interesse da população por sua história, sua memória e sua cultura e uma realidade na Baixada Fluminense. Contudo, o revés das políticas municipais, reduzindo os espaços e os investimentos públicos nas políticas de cultura, impõe a reflexão sobre cada lado da arena de tensão. Talvez seja o momento de repensar a política cultural idealizada e retomar o devir de luta pela cultura que tem marcado as iniciativas alternativas dos atores da cultura. Os seres humanos, nos incluindo como moradores da Baixada, somos necessitados de nossos significados, assim como precisamos de alimento, condições de saúde e formação educativa. Considerando que a Baixada Fluminense é formada por uma população de mais de 4 milhões de pessoas, não se pode admitir que as políticas públicas no campo da cultura sejam mais uma vez postergadas. São milhões de indivíduos que querem consumir sua história, sua memória e sua identidade, através das mais diferentes formas de expressões como o teatro, a música, a museologia, o patrimônio, as artes plásticas, o cinema, entre outros. Não podemos admitir que as iniciativas alternativas continuem sendo o centro da produção cultural na Baixada Fluminense. E preciso avançar. O público, formado por todos os cidadãos, precisam de políticas públicas, implementadas pelo Estado, capazes de assegurar o direito de cada indivíduo.

A cultura na Baixada Fluminense precisa ser concebida através de um princípio dialógico que envolva agentes, tanto do poder público, quanto dos seus diferentes atores sociais. O diálogo fortalece os diferentes através da busca de condições iguais para todos. Assim, a mudança cotidiana pode ser percebida por uma pluralidade de significados que se conectam através de diferentes pontos de uma mesma teia. A Baixada tem os seus significados, facilmente identificados e, muitas vezes explicados, através de sua cultura. A identidade e o sentimento de pertença dessas pessoas precisam ser respeitados, estimulados e reproduzidos. Para isso são necessários investimentos em planejamento, diálogo e ações.


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Sobre o autor

Nielson Rosa Bezerra é Pós Doutor em História da Diáspora Africana, Diretor de Pesquisa e Assuntos Pedagógicos do Museu Vivo do São Bento e autor, entre outros títulos, de “A Cor da Baixada: escravidao, liberdade e pós abolição no Recôncavo da Guanabara (Clio, 2012).

Acompanhe os comentários...

Total: 1 comentários


  • 01 de fevereiro de 2013 - 22:37
    Anônimo diz:
    A Baixada Fluminense tem necessidade de políticas públicas que incentivem a produção cultural, que não é pequena, mas não tende a crescer se não for incentivada. Aqui se produz e se consome cultura, porém nenhuma iniciativa é valorizada a longo prazo pelo poder público. Acesso à cultura é um direito que, infelizmente, nos vem sendo negado pelo poder público da Baixada Fluminense.