A psicologia das massas e a aprovação de Bolsonaro
*Leonardo Torres
Bolsonaro e sua equipe, ao apoderarem-se do auxílio emergencial e ao mudarem o tom na mídia, almejam criar a imagem de pai-provedor, salvador da pátria, assim como alguns presidentes fizeram neste país. E parece que essa estratégia tem funcionado, já que os últimos resultados do Datafolha apontaram o aumento da aprovação de Jair Bolsonaro pelo brasileiro. O presidente conseguiu essa façanha pois mirou em um dos inimigos mais antigos do Brasil: não o coronavírus, mas a fome.
Foi constatado que o auxílio emergencial foi o principal motivo para o recorde de aprovação do presidente, somado a sua nova postura na mídia - mais branda do que suas famosas respostas em meio aos gritos e palavrões.
Alguns têm chamado esse aumento da aprovação de "paradoxo", afinal parece ser inconcebível um país que vive uma extrema crise sanitária, com mais de 100 mil mortos, aprovar a administração de um presidente que se empenhou em menosprezar a Covid-19 e fazer propaganda em prol da cloroquina.
Quem denomina essa situação de "paradoxo" esquece-se que um terço da população brasileira é analfabeta funcional, nunca teve oportunidades, recebe um valor ínfimo como salário, mesmo trabalhando todos os dias por várias horas, e com o advento da pandemia passaria grandes necessidades.
Por um lado, quem está nesta difícil situação sente-se de alguma forma mais seguro com o auxílio do Governo; por outro, é necessário perceber que essas medidas do Governo foram o mínimo, quando comparadas às medidas de outros países. Vale lembrar que o auxílio emergencial recomendado pelo Governo de J. Bolsonaro tinha o valor de R﹩200,00. O valor atual de R﹩600,00 somente foi aceito após o Congresso criticar e tensionar a proposta do Governo.
Essa aprovação de Bolsonaro nada mais é um do que um resultado de manipulação psicológica das massas. Oferece-se o mínimo, acalenta-se um pouco, mas a prática da necropolítica ainda está em vigor. Os números de morte não cessaram e crescem mais do que a aprovação do brasileiro pelo seu presidente.
*Leonardo Torres é doutor em Comunicação e Cultura, psicoterapeuta junguiano e palestrante.