Baixada Prosa & Verso | 14 de agosto de 2013 - 17:17

Pra não dizer que não falei do Rio (incluindo a Baixada, claro)

Como poucas cidades o Rio, o Grande Rio, sintetiza a dor e a delícia de ser brasileira. Cidade cindida: montanha e praia, favela e asfalto, centro e periferia. Rio cidade maravilha purgatório da beleza e do caos. Direitos civis diretos dos fuzis. Granadas e orquestras, gramados e festas, mangueiras e quintais. Bueiros terroristas, boêmios balconistas. Tua “rente” se compõe de gente comum que põe a mão na massa e amassa  cada pão que a massa quer comer. Tua “rente” se compõe de gente incomum que afasta cada casta que quer se impor. Tua dor é por amor. Tua cor é nossa. Nossas cores de bossa, novas feito são as moças, roças teus lábios urbanos, suburbanos, nos quiosques da Central, nas obras eruditas no Municipal. Teu deleite, teu delírio dá calafrio em pleno sol de quarenta e poucos graus.


Cidade sincopada ao som de samba, decupada no batuque da macumba original. Leblon vai à Tijuca. Estudante é marginal? Isto tudo é muito novo; noivam o prazer e o capital. Só faz mal à cabeça o que não faz a cabeça. Tu ris e eu rio de janeiro a janeiro. Mais ainda em fevereiro, quando o povo carioca vira povo brasileiro. E o sonho cabe na palma da mão do pandeiro.


Engraxates ritmistas, socialites passistas, empresários comunistas, católicos candomblecistas, Iemanjá na geral. Tudo aqui começa com samba. Todo mundo aqui balanga: do funk ao rock metal. Rio veio da Bahia, das Minas, da Paraíba, foi um dia capital. Mas nem tudo é carnaval. Onde está Juan, menino criado em Danon, Nova Iguaçu? Onde estão nossos garotos, mortos, cortados no broto, nem viram cantar Maria Gadu? Onde está o Amarildo?


Cidade de muitas linhas: Metrô, Supervia, Brasil, Linha Amarela, Linha Vermelha, linhas das pipas com cerol fininho no céu azul das comunidades. Quem te tem? Quem te traça? Quem te engole? Quem te bole? Ao som das bombas de efeito moral gemem atabaques e cuícas, enquanto o gás de pimenta se espalha pelas avenidas. A galera acampa em frente à moradia do governador. As galeras que chegam de tudo o que é lado e vão a todos os lugares.


Somos metropolitanos, suburbanos, baixadenses, entes humanos passando no MAM, no MAR, passeando no Museu de Belas Artes, no CCBB, no Palácio Capanema, nas galerias de arte de Ipanema, nos bares da Lapa, na Biblioteca Nacional, em todos os cinemas – dentro e fora de shoppings, em todos os teatros, vendo algum musical, esperando o grupo Galpão chegar, disputando um ingresso para a próxima sessão do Anima Mundi. Flanando com elegância na Beija-flor ou na Grande Rio...


Somos o povo sofrido, bandido, destemido, que nunca te quis mal. Rio, te aprumo, te apanho, te assumo, te amo (do Leme ao Pontal, do Baixo Gávea às baladas da Baixada Fluminense), serás sempre a capital cultural deste país. Seremos felizes, por mais demora, por mais custa, no dia em que além de bela, fores uma cidade justa.


Aí, eu Rio.



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Sobre o autor

Jorge Cardozo é Poeta e Gestor de Projetos Culturais e um dos protagonistas da movimentação cultural na Baixada Fluminense. Enquanto prepara seu novo livro de poemas, Ave da Periferia, Cardozo participa de saraus e discute a produção artístico cultural da região. O poeta chegou para falar.

Acompanhe os comentários...

Total: 1 comentários


  • 14 de agosto de 2013 - 18:23
    Euclides Amaral diz:
    é isso aí!! falou bem pra cacete!!!!