Papo de Professor | 20 de janeiro de 2021 - 20:52

O que significa “aprender inglês”?

*Eduardo Graça

Muitos alunos ainda reproduzem a crença de que a aprendizagem de língua inglesa deve ser pautada pela capacidade de imitação de um sotaque ideal, "correto", semelhante àquele de um falante nativo. Tal crença é uma das principais causas de inseguranças, frustrações e "bloqueios" na comunicação em inglês como língua estrangeira. Neste texto, explico porque o desenvolvimento da sua proficiência em língua inglesa até o nível da fluência não precisa ser balizado por esta falsa ideia de um sotaque nativo ideal a ser perseguido.


Proficiência x Fluência

Um aluno que está apenas começando seus estudos em língua estrangeira e que, portanto, consegue compreender e produzir poucos enunciados nesta língua, tem proficiência básica ou elementar no idioma estudado.

Quando esta proficiência é desenvolvida ao ponto do aluno conseguir compreender diferentes registros da língua alvo (formal e informal, oral e escrito); produzir enunciados compreensíveis para nativos e estrangeiros; e interagir de forma eficiente e fluida em diferentes contextos comunicativos, diz-se que ele atingiu fluência na língua.

Esse deve ser o objetivo do estudante de inglês como língua estrangeira: ser capaz de compreender e expressar as ideias mais simples e mais complexas no idioma estudado, de exercer quaisquer funções sociais onde a articulação da língua aprendida é necessária, de interagir com as diversas variantes da língua inglesa e os diversos contextos enunciativos que podem se lhe apresentar.

Estas são as capacidades cobradas por outros falantes da língua (nativos ou estrangeiros, em situações informais de comunicação) e por empresas, instituições de ensino e exames de certificação internacional em inglês (em contextos avaliativos formais).

Absolutamente ninguém no mundo espera ou deseja que você aprenda a "se passar por um nativo", e eu explico o porquê disso a seguir:


Inglês como Língua Estrangeira

Mais de 70% dos falantes de inglês do mundo utilizam o inglês como língua estrangeira, e em todo o mundo nativos e estrangeiros se comunicam em inglês com as mais diversas variantes da língua inglesa.

Mesmo em territórios políticos onde o inglês é a língua nativa, falantes de diferentes regiões, gerações, extratos sociais e histórias pessoais apresentarão uma vasta diversidade de variações lexicais (no vocabulário), nas construções frasais (na sintaxe), e nas pronúncias (na fonética), ou seja, uma grande variedade de registros da língua inglesa.

As diversas variações correntes, performadas pelos mais diversos nativos e estrangeiros, não são, no entanto, infinitas. Existe uma gama de fonemas para cada fone em língua inglesa, e o inevitável estabelecimento de um contexto comunicativo também delimita os campos semânticos (os possíveis significados) que palavras, sintagmas e expressões podem abarcar em diferentes situações discursivas.


O que muda, afinal?

Compreender o inglês como língua estrangeira e pensá-la em sua variedade de formas possíveis muda a perspectiva de professores e alunos em relação ao ensino-aprendizagem da língua, das seguintes formas:

Professores menos normativos estarão menos preocupados em classificar a capacidade de expressão oral dos alunos em termos de adequação à norma de prestígio e mais atentos ao que funciona em cada contexto comunicativo.

Isso muda a ocasião e a frequência em que se interrompe o aluno e o deixa mais à vontade para articular sua fala, a despeito de possíveis desvios em relação ao "standard English" que possam acontecer ao longo de suas colocações.

Anúncios como "os 30 e tantos erros mais comuns" ou "você está usando tal expressão do jeito errado" disseminam a crença de que "errar" em língua estrangeira seria algo imperdoável e irreversível.

Mas a verdade é que muitos "erros" são perfeitamente compreensíveis e funcionais em certos contextos comunicativos e que, caso alguma dificuldade de compreensão apareça, sempre podemos tentar explicar melhor nossas intenções comunicativas em tempo real - o que é muito mais interessante do que ficar travado ou congelado por não saber se "in" ou "on" é a preposição mais adequada em determinada colocação.

Para alunos, é muito libertador saber que em situações reais de comunicação, os desvios da norma "padrão" são constantemente cometidos e até explorados conscientemente por falantes fluentes da língua, nativos e estrangeiros.

Fluência não envolve apenas a aquisição de vocabulário, de estruturas gramaticais e a articulação fonética dos mesmos, mas também a fluidez e a naturalidade com que se atua em diferentes situações de comunicação.

O medo do erro e da inadequação ao "standard" é um óbvio bloqueador da expressão oral de muitos alunos de inglês como língua estrangeira.

Precisamos derrubar essa crença para soltar a sua fala.


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Sobre o autor

Eduardo Graça tem Licenciatura Plena em Letras Português-Inglês, Mestrado em literaturas de Língua Inglesa e Doutorado em Literatura Comparada, todos pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ); e conta com mais de 15 anos de experiência como professor, intérprete e tradutor simultâneo. Você pode encontrá-lo no Instagram como @eduardogracaprof

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