Cantinho do Chico | 18 de janeiro de 2012 - 01:51
A privataria escondida
Nossa mídia grande privada é pouco aberta ao contraditório. E a oficial resvala, volta e meia, na sensaboria da 'chapa branca'. Um exemplo candente do caráter seletivo e da editorialização das notícias pelos jornalões e tvs do país - com raras exceções - diz respeito à omissão quanto a um livro de impacto. Desde o final de 2011, "A Privataria Tucana", de Amaury Ribeiro Jr, tem obtido impressionante sucesso editorial, ocupando a relação dos mais vendidos e com sucessivas edições esgotadas.
O autor é reconhecido e premiado jornalista de investigação, 'perdigueiro' dos bons, pelo que me disseram alguns amigos que trabalharam com ele. O fato de estar sendo investigado (indiciado não é condenado) não elimina, de antemão, eventuais qualidades do seu trabalho.
O livro deveria ser notícia ao menos pelo impressionante êxito de vendas, nesse Brasil que pouco lê, e nenhum órgão de imprensa devia desconhecer isso, já que polemiza questões importantíssimas da vida nacional mais recente.
O jornal Estado de Minas, onde Amaury trabalhou, queria apurar possível 'torpedeamento' de Serra contra Aécio, postulantes à candidatura à presidência da República e protagonistas de feias bicadas entre tucanos. Textualmente, "descobrir quais são os arapongas que estariam no encalço do governador de MG durante seus discretos roteiros sentimentais pelo RJ" (p. 24). Amaury apurou, redigiu relatório e entregou à editoria. A partir daí, resolveu aprofundar investigações na retomada de um tema que lhe fascinava: a Era das Privatizações. Aliás, ele diz que estava em cima disso desde o início do século, quando ainda trabalhava na sucursal paulista de O Globo.
Destaque-se que Amaury faz questão de dizer que usou, nesse trabalho, a mesma metodologia empregada em outros, como o do desvendamento da "Máfia dos Fiscais" no RJ (Silveirinha) e das apurações sobre o "Mensalão" ("mesada que o publicitário Marcos Valério pagava à base política do governo no Congresso", como escreve o "petista" (?!) Amaury (p.53).
Essas razões de origem do trabalho que resultou no livro não são irrelevante. O fato de o autor revelar também os 'socos', que fizeram alguns 'ver estrelas', na luta interna petista (cap. 16), desloca a afirmação de que a obra é mero torpedeamento do PT contra o PSDB. Quem lê o livro vê que "sobra" para petistas de alto coturno também. Registre-se que a obra não faz do exame da chamada "privataria" (o termo é do jornalista Elio Gaspari) tucana um álibi para a corrupção de "aloprados" e "mensaleiros" petistas.
Parlamentares independentes, de diversos partidos, por sinal, apoiaram tanto a CPI da Corrupção, que ainda não conseguiu o número regimental de assinaturas no Congresso, quanto a das Privatizações, de iniciativa do dep. Protógenes. Investigar é prerrogativa do Parlamento, embora sempre incomode quem está no Executivo. Em SP ou no Brasil, a praxe é movimentar a base de apoio para abortar qualquer iniciativa de CPI.
A farta documentação que o livro traz também não é irrelevante, por mais que seja pública, pois comprova movimentações cartoriais e financeiras - aqui e em paraísos fiscais - e devia, sim, ser elemento de investigação mais séria, com cruzamento de dados e depoimentos dos envolvidos. Tudo que a CPI do Banestado, a partir de um conluio entre os antigos e os atuais donos do poder, não quis aprofundar.
A responsabilidade da mídia - pequena ou grande, privada ou pública - efetiva-se tanto em evitar o denuncismo vazio (não é o caso) quanto a blindagem pesada, por interesses ocultos. REPORTAR um fato é tão importante quanto o Legislativo INVESTIGAR denúncias.
Há um padrão crescentemente degenerado na política brasileira que faz com que "malfeitos" passados e presentes não sejam apurados devidamente. A ordem do poder é esquecer. Às vezes, a queda de um ministro basta. Em outro plano, homens públicos que montam partidos anódinos, sem definição que não a de ficar à sombra do Executivo, e com muitas denúncias de atas faltas e apoiamentos fantasmas, ganham prêmio de 'político do ano' - e de uma importante publicação semanal...
Há, no livro do Amaury, informações importantes sobre lavagem de dinheiro, financiamento ilícito de campanha, transações ilegais, empresas fantasmas, chantagens. Elas envolvem pessoas que têm nome e sobrenome (até da CBF!), patrocinadoras de possíveis "tenebrosas transações". Por que não devem ser objeto de apuração pelos órgãos de controle da República?
O livro tem insuficiências, claro, mas, no essencial, retoma aspectos que o saudoso jornalista de economia Aloysio Biondi já tratava, com inegável acuidade, no seu "O Brasil privatizado". Merece ser lido e comentado. E, em especial, considerado por quem tem compromisso não com o embate PT/PSDB (cada vez mais assemelhados, até nos procedimentos que desprezam fronteiras éticas), mas com a transparência e o interesse público.
O autor é reconhecido e premiado jornalista de investigação, 'perdigueiro' dos bons, pelo que me disseram alguns amigos que trabalharam com ele. O fato de estar sendo investigado (indiciado não é condenado) não elimina, de antemão, eventuais qualidades do seu trabalho.
O livro deveria ser notícia ao menos pelo impressionante êxito de vendas, nesse Brasil que pouco lê, e nenhum órgão de imprensa devia desconhecer isso, já que polemiza questões importantíssimas da vida nacional mais recente.
O jornal Estado de Minas, onde Amaury trabalhou, queria apurar possível 'torpedeamento' de Serra contra Aécio, postulantes à candidatura à presidência da República e protagonistas de feias bicadas entre tucanos. Textualmente, "descobrir quais são os arapongas que estariam no encalço do governador de MG durante seus discretos roteiros sentimentais pelo RJ" (p. 24). Amaury apurou, redigiu relatório e entregou à editoria. A partir daí, resolveu aprofundar investigações na retomada de um tema que lhe fascinava: a Era das Privatizações. Aliás, ele diz que estava em cima disso desde o início do século, quando ainda trabalhava na sucursal paulista de O Globo.
Destaque-se que Amaury faz questão de dizer que usou, nesse trabalho, a mesma metodologia empregada em outros, como o do desvendamento da "Máfia dos Fiscais" no RJ (Silveirinha) e das apurações sobre o "Mensalão" ("mesada que o publicitário Marcos Valério pagava à base política do governo no Congresso", como escreve o "petista" (?!) Amaury (p.53).
Essas razões de origem do trabalho que resultou no livro não são irrelevante. O fato de o autor revelar também os 'socos', que fizeram alguns 'ver estrelas', na luta interna petista (cap. 16), desloca a afirmação de que a obra é mero torpedeamento do PT contra o PSDB. Quem lê o livro vê que "sobra" para petistas de alto coturno também. Registre-se que a obra não faz do exame da chamada "privataria" (o termo é do jornalista Elio Gaspari) tucana um álibi para a corrupção de "aloprados" e "mensaleiros" petistas.
Parlamentares independentes, de diversos partidos, por sinal, apoiaram tanto a CPI da Corrupção, que ainda não conseguiu o número regimental de assinaturas no Congresso, quanto a das Privatizações, de iniciativa do dep. Protógenes. Investigar é prerrogativa do Parlamento, embora sempre incomode quem está no Executivo. Em SP ou no Brasil, a praxe é movimentar a base de apoio para abortar qualquer iniciativa de CPI.
A farta documentação que o livro traz também não é irrelevante, por mais que seja pública, pois comprova movimentações cartoriais e financeiras - aqui e em paraísos fiscais - e devia, sim, ser elemento de investigação mais séria, com cruzamento de dados e depoimentos dos envolvidos. Tudo que a CPI do Banestado, a partir de um conluio entre os antigos e os atuais donos do poder, não quis aprofundar.
A responsabilidade da mídia - pequena ou grande, privada ou pública - efetiva-se tanto em evitar o denuncismo vazio (não é o caso) quanto a blindagem pesada, por interesses ocultos. REPORTAR um fato é tão importante quanto o Legislativo INVESTIGAR denúncias.
Há um padrão crescentemente degenerado na política brasileira que faz com que "malfeitos" passados e presentes não sejam apurados devidamente. A ordem do poder é esquecer. Às vezes, a queda de um ministro basta. Em outro plano, homens públicos que montam partidos anódinos, sem definição que não a de ficar à sombra do Executivo, e com muitas denúncias de atas faltas e apoiamentos fantasmas, ganham prêmio de 'político do ano' - e de uma importante publicação semanal...
Há, no livro do Amaury, informações importantes sobre lavagem de dinheiro, financiamento ilícito de campanha, transações ilegais, empresas fantasmas, chantagens. Elas envolvem pessoas que têm nome e sobrenome (até da CBF!), patrocinadoras de possíveis "tenebrosas transações". Por que não devem ser objeto de apuração pelos órgãos de controle da República?
O livro tem insuficiências, claro, mas, no essencial, retoma aspectos que o saudoso jornalista de economia Aloysio Biondi já tratava, com inegável acuidade, no seu "O Brasil privatizado". Merece ser lido e comentado. E, em especial, considerado por quem tem compromisso não com o embate PT/PSDB (cada vez mais assemelhados, até nos procedimentos que desprezam fronteiras éticas), mas com a transparência e o interesse público.
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